Uma paisagem típica do Nordeste brasileiro no Norte do
Estado do io. Percorrer o município de Cardoso Moreira é ver o leito do quase
seco Muriaé e grandes áreas, onde, antes, eram utilizadas para plantio e
pastos. A estiagem que atinge um dos principais afluentes do rio Paraíba do Sul
está provocando outro fenômeno típico da região mais seca do país: a migração.
De acordo com o secretário de Agricultura e Pesca, Helvécio Azevedo, muitos
agricultores estão deixando suas propriedades e indo para a cidade por não
terem água para beber.
Helvécio disse que o município conta com cerca de 800
produtores rurais, incluindo os de três assentamentos – Francisco Julião, Chico
Mendes e Paz na terra. O secretário disse que a prefeitura está fazendo tudo o
que pode para ajudar os agricultores, através de limpeza e abertura de poços,
por exemplo.
— Mas a gente limpa o poço e daqui a pouco não tem água
mais. Abre outro e não encontra água. O rio está com menos de 30 centímetros.
Estamos pedindo a Deus que chova. A gente vê que as enchentes eram importantes
porque enchiam os valões, o rio, armazenava água. Agora... — lamenta.
O agricultor e comerciante Miguel Genário, de 58 anos, fala
que a situação está muito crítica para todos: “Está muito ruim e o que vai
resolver é somente a chuva. A gente está vendo hoje no município, o que só se
via pela televisão. Em toda minha vida, nunca vi uma seca como essa. É rezar
para chover”, afirma.
Opinião semelhante tem a agricultora Adriana Braga da Silva.
Ano passado, segundo conta, ela e o marido Sérgio tinham que pegar água com um
balde para dar de beber ao gado: “O problema é que este ano, nem o aceiro de
onde tirávamos água tem mais. Se a situação continuar assim, teremos que
retirar os animais da outra propriedade que meu marido toma conta e trazer para
cá. Ele já fala até em vender o gado, mas não sei quem compraria”, afirma a
agricultora.
Gado está morrendo e ração vem de fora.
Ano passado, a situação foi extrema. O município não
decretou emergência, mas o secretário lembra que São Fidélis fez isso, mas não
foi oficializada pelo Governo Federal. A seca matou mais de 500 cabeças de
gado. Além disso, Cardoso Moreira enfrentou um período de fome animal: “A
prefeitura enviava caminhões a Campos e São Francisco de Itabapoana para buscar
cana e alimentar os animais. Eram seis caminhões por dia nesse trabalho. Não
fosse isso, o número seria ainda maior”, garante o secretário.
— A maior dificuldade é atender a todos, porque o município
é muito extenso. Às vezes uma máquina está de um lado. Um agricultor pede ajuda
de outro lado, uma distância de quase 50 quilômetros. Então fazemos por
localidade. Mas os pedidos não aram — conta. E, realmente, por onde o
secretário passa, os pedidos de ajuda vão chegando por parte dos agricultores
de váriaspartes, mas os recursos são escassos.
Comitê buscará mais dados sobre estiagem
Um dos diretores do Comitê do Baixo Paraíba, Leandro
Peixoto, disse que a gestão dessa crise cabe aos próprios municípios.
Sexta-feira última, porém, a Câmara Técnica do Comitê definiu que irá enviar
aos municípios afetados pela estiagem um questionário para coletar dados sobre
a situação, além de fazer uma “radiografia” da região.
Esse levantamento servirá para que o Comitê elabore planos
de ação para reestruturação vegetal das margens dos rios e proteção das
nascentes: “Toda estrutura vegetal foi devastada ao longo dos anos. Precisamos
identificar os recursos que ainda existem e fazer reestruturação vegetal para
que as nascentes que ainda existem não morram. Isso é importante porque, havendo
chuva, essa não vai escoar para o mar, por exemplo” Além disso, os municípios membros do Conselho dos
Secretários de Meio Ambiente (Cosema) – que abrange 15 municípios do noroeste
mais Cardoso Moreira e São Fidélis – estão articulando para cobrar ações das
concessionárias de água: “Em São Fidélis, por exemplo, fizemos isso e a Cedae
mudou o local de captação. É responsabilidade das concessionárias”, disse.
Fonte: Folha da manha
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