Muriaé mais seco do que nunca

Quem conhece a pequena Cardoso Moreira, no Norte Fluminense, pessoalmente ou mesmo “de ouvir falar”, impossível não associá-la a grandes enchentes. Algumas, na década de 90, chegaram a cobrir quase totalmente o Ciep Admar Ferreira de Medeiros, ponto de referência na entrada da cidade. Mais recentemente, em 2012, o rompimento de um dique retirou de suas casas mais de seis mil pessoas — praticamente metade da população local. Mas desde 2013, a situação está mudando e o rio Muriaé, que antes jogava suas águas pelo município, hoje não passa de um filete em certos trechos. O nível, na última quinta-feira, estava em 26,5 centímetros, enquanto, para esta época do ano, o normal seria dois metros.
O nível do Muriaé é medido diariamente através das réguas do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), que realiza o serviço para Agência Nacional de Águas (ANA). São 10 réguas no local, retratando o recuo das águas. A régua mais alta tem 10 metros e, nas enchentes mais violentas, chegou a ser coberta pelo Muriaé. Responsável pela medição do rio há 28 anos, Ronalto Dias Fuly, o Matinho, afirma que o nível de quinta-feira foi um dos mais baixos já registrados. O mais baixo foi 24 centímetros, em setembro do ano passado.
— O normal para outubro, seria dois metros, até um metro e meio. Mas cada dia parece estar mais baixo. Eu, sinceramente, nunca vi o Muriaé assim — disse Matinho.
O vice-prefeito Renato Jacinto afirmou que o município nunca passou por situação semelhante: “Estamos esperando chover, esperando chegar novembro que é, tradicionalmente, um mês de chuva. Mas se isso não acontecer, ficará ainda mais difícil. E a temperatura não ajuda. Você veja, estamos em plena primavera, com um calor de verão”, destacou.
A seca do Muriaé deixou aparente seu leito, coberto por pedras. Em algumas partes onde ainda há água, muitos jovens aproveitam para refrescar do calor provocado pelo sol escaldante: “Temos que aproveitar enquanto ainda tem água. Do jeito que está, daqui a pouco, nem essa”, prevê o jovem Mateus Silva.
Progama de reflorestamento é cobrado
O ambientalista Aristides Soffiati afirma que a solução passa pelo reflorestamento: “Não há programa de reflorestamento sério. Ele tem de ser comandado por um órgão público dos Estados em comum acordo e com orientação e supervisão do Ceivap (Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul). Nada de plantar uma árvore por cada criança nascida, como em Itaperuna. Uma semana depois, a muda plantada não está mais lá. Nada de iniciativas particulares de prefeituras nas margens dos rios. Temos de tratar este tema como seriedade. Pezão veio a Campos e voltou com a promessa de iniciar um plano como esse. Nada mais se falou. O Comitê do Baixo Paraíba só atua nas emergências”.
Soffiati destaca que somente ações preventivas podem evitar que o quadro vivido hoje se repita nos próximos anos: “Já disse e repito: os rios do Sudeste, para enfrentar enchentes e estiagens precisam de reflorestamento sério, despoluição e fim de barragens”.
Fonte: Folha da manhã

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