Goleiro Cardosense é destaque no Santa Cruz de Recife



Onde Carlos Miguel chega, chama a atenção - não seria diferente para uma pessoa que tem 2,04m. Ainda mais quando se trata de um cara de apenas 21 anos. Em janeiro do ano passado, até o jornal espanhol Marca fez uma matéria sobre a altura do novo goleiro do Santa Cruz - à época, na base do Internacional. Mas a história do jogador guarda muito mais do que os olhos podem ver.

Com 2,04m, Carlos Miguel é o maior goleiro entre os que vão disputar as três principais divisões do futebol brasileiro. Hoje, ele desponta como favorito a iniciar 2020 como titular no Tricolor, logo em seu primeiro ano de profissional. Se sua carreira ainda é pequena de currículo, seu poder de superação para chegar até este ponto foi - assim como a estatura - enorme.

Órfão e início no basquete

Carlos Miguel é filho de José Cláudio, ex-goleiro do Botafogo na década de 70. Mas o perdeu muito rápido. O pai e a mãe, que se chamava Elenise, foram assassinados quando o goleiro tinha sete anos de idade. Carlos, então, passou a ser criado com os avós e as tias.

Buscando refúgio no esporte, começou a praticar cedo. Por causa da altura, o garoto da cidade de Cardoso Moreira, interior do Rio de Janeiro e a 300 quilômetros da capital do Rio de Janeiro, começou no basquete. E chegou a disputar torneios amadores na região que morava.


Era difícil Carlos Miguel despontar como jogador de futebol em uma cidade tão afastada. Por isso o basquete foi escolhido. Paralelamente, disputava alguns jogos como goleiro com os amigos. Levava jeito e pessoas que se diziam empresários sempre prometeram muitos testes em clubes cariocas, que não se concretizaram. Mas o destino começaria a mudar.


E mudaria longe de Cardoso Moreira. O destino era Bonsucesso, para fazer um teste no time homônimo do bairro do Rio de Janeiro que ficava a 329 quilômetros da sua cidade. No teste, veio a aprovação. Depois, mais uma chance no Boavista. Passou. Depois, um teste no Flamengo, em 2015. Passou.

Só que em março de 2016 surgiu a chance de ir a um "peneirão" do Internacional. E Carlos Miguel foi, já que percebeu que não iria ter muitas chances no Flamengo. O início no Sul não foi fácil.

- Eu não estava aqui no momento que ele chegou, mas eu colhi dados e informações. Aqui no Inter, ele chegou cru, sem todos os fundamentos necessários. E tivemos que fazer um trabalho bem inicial, confiando no potencial de Carlos Miguel. Aos poucos, ele foi evoluindo e dando resposta. E aí foi se tornando um destaque - disse Fabrício Delaix, diretor geral das categorias de base do Internacional.

Destaque e injúria racial

Os que fazem o Internacional relatam Carlos Miguel como um cara tranquilo e bem humorado. Dentro de campo, líder. Gosta de falar, gesticular e orientar os zagueiros. Tem personalidade. Forte. Tanto que transcendeu as quatro linhas. Em um jogo da Copa FGF, em agosto do ano passado, Carlos relatou ter sofrido insultos racistas em um jogo do Inter contra o Novo Hamburgo, no CT Morada dos Quero-Queros, na cidade de Alvorada, e o caso foi registrado na súmula.


+ Goleiro do time B do Inter é alvo de injúria racial em jogo contra o Novo Hamburgo

O Novo Hamburgo foi absolvido. Dois dos três auditores do Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) votaram na isenção do clube no caso.

Carlos, mais uma vez, se viu obrigado a pular um obstáculo enorme. E foi destaque na Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano. Chamou a atenção do Santa Cruz. E, no Recife, vai escrever uma nova página da sua história.

- Carlos é um goleiro promissor, mas existiam outros na frente dele e, por isso, o Inter entendeu que era necessário dar uma rodagem. Mas ele tem uma certa agilidade para quem tem essa altura toda, que realmente espanta. Também sabe sair jogando com os pés, já que é algo que a escola de goleiros do Internacional trabalha muito. Acho que o Santa Cruz está muito bem servido de goleiro - acrescentou Fabrício Delaix.

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