No meio rural é comum que produtores
trabalhem em sistema de mutirão. Plantar ou colher com o apoio de
parceiros promove economia de despesas com mão de obra. Em Italva, no
Noroeste Fluminense, essa integração na agricultura familiar tem se
fortalecido. A disseminação dos projetos do Programa Rio Rural, com
incentivos do Banco Mundial, está dinamizando a produção agrícola,
aumentando o número de áreas cultivadas e melhorando a geração de renda
das comunidades.
Na microbacia Valão Carqueja, assim como
em outras áreas de Italva, algumas famílias começaram a trabalhar em
mutirão desde a década de 1950, época em que a produção de arroz estava
em alta. Com a desvalorização do produto, os grupos se desmobilizaram. A
chegada do programa, há quase dez anos, renovou o ânimo e a tradição do
trabalho em conjunto.
“A queda no preço do arroz fez as
pessoas se mudarem para as cidades. Com a renovação da agricultura,
muitas famílias querem voltar”, conta o agricultor Almeirindo Corrêa.
Quatro famílias vizinhas à propriedade
de Corrêa trabalham com ele. Em dias pré-determinados, o grupo se reúne
para fazer a colheita em uma das lavouras, fartamente abastecidas com
pimentão e tomate. A cada semana, 61 toneladas são colhidas na
microbacia e levadas para comercialização no município de Itaocara.
“O mutirão é muito bom. Plantar sozinho é
possível, mas colher não dá. Caso contrário, eu perderia parte da
lavoura”, comenta o agricultor Agnaldo da Silva. Por dois anos, Silva
trabalhou em uma serralheria. Ao perceber que o momento era propício,
ele retornou ao campo e hoje tira o sustento da família exclusivamente
da horta.
Semeando melhorias
Não são apenas os beneficiários do Rio
Rural que saem ganhando. Os efeitos da melhoria de renda impactam toda a
comunidade agrícola. Ao receber incentivos do programa e implantar a
irrigação mecanizada, Almeirindo Corrêa passou a ter tempo para aumentar
sua área cultivada. Mas com a necessidade de mais mão de obra, foi
preciso também ampliar a rede de parceiros.
Corrêa decidiu, então, ceder um pequeno
espaço dentro de sua propriedade para que o produtor Francisco Pereira
construísse uma casa. Aos poucos, o novo morador estabeleceu sua lavoura
de 7 mil pés de pimentão e 1.200 de tomate. “Eu trabalhava para os
outros. Hoje, somos os nossos patrões. É incomparável”, diz o
agricultor.
Unir para preservar
A integração das famílias tem efeito
positivo nos cuidados ambientais. Na microbacia Valão Carqueja, o Rio
Rural também forneceu incentivos para a proteção de uma área de recarga
de 27 hectares, que abrange nove propriedades.
“Há 40 anos, o pessoal colocava fogo na
mata. Hoje, não mais. A natureza já nos respondeu que estamos no rumo
certo. Enquanto muita gente passa sufoco com a seca, nós temos água”,
comemora Corrêa.
Para o secretário estadual de
Agricultura, Christino Áureo, esse é um dos maiores legados que serão
deixados pelo Rio Rural. “Além dos inúmeros benefícios aos agricultores,
o programa também apoia a adequação ambiental das propriedades, o que
antes não era possível, muitas vezes por falta de recursos. A
conscientização do produtor e o protagonismo rural vão ficar para as
futuras gerações”, enfatiza.
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